Paris,
Novembro (via VARIG)
No dia 20
muitos artista franceses (Lacasse, Leon Zak, etc.) e
brasileiros (Rossini Perez, Shiro, Piza, Frans Krajberg,
Sérgio Telles, entre outros) reuniram-se na Galeria Jacques
Massol – ao lado de “tous brèsiliens de Paris” para ver a
mostra de pinturas recentes de Noêmia Guerra e festejar o
esforço profissional e a vivacidade simpática da conhecida
artista. Foram quase três horas de reunião feliz. As novas
paisagens, esboçadas na Bahia, mas aqui realizadas, criavam
sentimento de equilíbrio e tranqüilidade em suas grandes
horizontais e seu tons austeros tão bem resolvidos, com
fartura e harmonia.
É que Brook
Street da capital inglesa – em pleno centro de galerias, ao
lado da Old e da New Bond Street – a Alwin Gallery inaugurara,
no dia 5, exposição ainda maior de obras 1969 de Noêmia,
mostra que prossegue coincidindo num raro recorde com a
abertura da exposição parisiense de pinturas do mesmo período.
Ali, como em Paris, a artista palmilhou simultâneamente dois
tipos de realização figurativa: o das praias de Itapoã,
Amaralina, Lagoa do Abaeté, em amplas soluções, com esforços
substanciais e grandes horizontes de cor, num ocre claro
harmonizando-se com verdes bem pessoais e – por outro lado – o
esforço de interpretação de ritmos de figuras humanas (às
vezes, com menor intensidade, atingindo os coqueiros, em
certos quadros) no candomblé nos mercados e em trabalho. Aqui
a artista conserva a trepidação cromática, a vibração luz-côr,
que até agora a caracterizava. Na Massol está o grande
candomblé colorísticamente bem resolvido, assim com cortes de
dança de macumba e, em tons aveludados, densos e sensíveis de
ordem diversa, paisagem do Pelourinho, através de janela.
Sempre os roxos e verdes que fascinam a artista e constituíam
a sua gama pessoal até agora. Ela coexiste com a serenidade
cromática e compositiva de suas grandes paisagens, nas quais a
pintora atinge o clímax de sua realização pictórica até hoje –
para meu gosto – sem desfazer de suas outras concepções. É nas
praias que Noêmia Guerra cria uma paisagem moderna do Brasil,
após a de Pancetti. A atmosfera brilhante a que se referiu o
crítico inglês George S. Whittet e o sentimento de Brasil que
existe em sua arte, como acentuou Massol em prefácio, tudo
isto e outras coisas confluem para o amadurecimento da obra
paisagística moderna de Noêmia, que um pioneiro da abstração
como Lacasse definiu como “um considerável passo à frente” da
artista.
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De
exposições alemã e holandesa a notícias da Europa
Mário Barata - Jornal do Commercio - |
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Da
Europa chegam-se notícias do sucesso de exposições de
brasileiros, entre elas de Noêmia Guerra, em Londres e de
Rubem Valentim em Roma.
A
primeira expôs em maio na St. Martin´s Gallery, em mostra
que obteve repercussão. Em seu London Commentary, o
diretor de Studio International, crítico de arte G.S.
Whittet opinou sobre a obra da pintora na importante
revista inglesa, afirmando que essa “artista brasileira
trabalhando em Paris, tem talento maior do qeu muitos dos
incluídos na recente exposição brasileira no Royal College
of Art. Suas abstrações em azuis, vermelhos e verdes,
aplicados como numa plumagem de pássaro, sugerem a pura
atmosfera do espaço em associações subjetivas de cores que
estão emocionalmente em movimento, refletindo-se a si
mesmas” (p. 227 de Studio International de maio último).
A bela
reprodução do catálogo confirmava o progresso da conhecida
pintora, no ajustamento dos tons dentro de vibrante e
exuberante cromatismo que lhe é tão pessoal. Aguardemos,
agora mostra de Noêmia em galeria ou museu do Rio.
No The
ARTS REVIEW (nº de 29 de maio a 12 de junho/65), na mesma
página em que Guy Burn comentava exposição conjunta de
obras de Du-buffet, Matta, Michaux e Roquichot, saiu
apreciação de Cottie Burland sobre a arte de Noêmia,
bastante expressiva. Entre outras coisas diz que “não só a
cor, mas um movimento informal determina-lhe o estilo.
Esta brilhante pintora é melhor em suas maiores obras
verticais, mas em todos os trabalhos ela obtém forte
sentido de movimento recíproco”... “e tem a habilidade de
sugerir um movimento que vai da tela ao espectador”.
Parece-nos que para C.B. foi sobretudo a possibilidade de
captar e exprimir o movimento que a surpreendeu em Noêmia
Guerra, paralelamente ao variado e luminoso uso das
cores”. |
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