Exposição na St. Martin´s Gallery. Londres, 17 de maio de 1965.
Trecho extraído do catálogo escrito por Mario Barata

 

Nas palavras de Merleau Ponty “na pintura não há que se falar do espaço ou da luz, mas sim permitir que o espaço e a luz falem por si próprios”, o que Noêmia Guerra faz com uma totalmente rara autenticidade na pintura contemporânea brasileira.

 

Bilhetes da Europa - Exposições Noêmia Guerra
Mário Barata - Jornal do Commercio 1979

Paris, Novembro (via VARIG)

No dia 20 muitos artista franceses (Lacasse, Leon Zak, etc.) e brasileiros (Rossini Perez, Shiro, Piza, Frans Krajberg, Sérgio Telles, entre outros) reuniram-se na Galeria Jacques Massol – ao lado de “tous brèsiliens de Paris” para ver a mostra de pinturas recentes de Noêmia Guerra e festejar o esforço profissional e a vivacidade simpática da conhecida artista. Foram quase três horas de reunião feliz. As novas paisagens, esboçadas na Bahia, mas aqui realizadas, criavam sentimento de equilíbrio e tranqüilidade em suas grandes horizontais e seu tons austeros tão bem resolvidos, com fartura e harmonia.

É que Brook Street da capital inglesa – em pleno centro de galerias, ao lado da Old e da New Bond Street – a Alwin Gallery inaugurara, no dia 5, exposição ainda maior de obras 1969 de Noêmia, mostra que prossegue coincidindo num raro recorde com a abertura da exposição parisiense de pinturas do mesmo período. Ali, como em Paris, a artista palmilhou simultâneamente dois tipos de realização figurativa: o das praias de Itapoã, Amaralina, Lagoa do Abaeté, em amplas soluções, com esforços substanciais e grandes horizontes de cor, num ocre claro harmonizando-se com verdes bem pessoais e – por outro lado – o esforço de interpretação de ritmos de figuras humanas (às vezes, com menor intensidade, atingindo os coqueiros, em certos quadros) no candomblé nos mercados e em trabalho. Aqui a artista conserva a trepidação cromática, a vibração luz-côr, que até agora a caracterizava. Na Massol está o grande candomblé colorísticamente bem resolvido, assim com cortes de dança de macumba e, em tons aveludados, densos e sensíveis de ordem diversa, paisagem do Pelourinho, através de janela. Sempre os roxos e verdes que fascinam a artista e constituíam a sua gama pessoal até agora. Ela coexiste com a serenidade cromática e compositiva de suas grandes paisagens, nas quais a pintora atinge o clímax de sua realização pictórica até hoje – para meu gosto – sem desfazer de suas outras concepções. É nas praias que Noêmia Guerra cria uma paisagem moderna do Brasil, após a de Pancetti. A atmosfera brilhante a que se referiu o crítico inglês George S. Whittet e o sentimento de Brasil que existe em sua arte, como acentuou Massol em prefácio, tudo isto e outras coisas confluem para o amadurecimento da obra paisagística moderna de Noêmia, que um pioneiro da abstração como Lacasse definiu como “um considerável passo à frente” da artista.

 
De exposições alemã e holandesa a notícias da Europa
Mário Barata - Jornal do Commercio -
 

Da Europa chegam-se notícias do sucesso de exposições de brasileiros, entre elas de Noêmia Guerra, em Londres e de Rubem Valentim em Roma.

A primeira expôs em maio na St. Martin´s Gallery, em mostra que obteve repercussão. Em seu London Commentary, o diretor de Studio International, crítico de arte G.S. Whittet opinou sobre a obra da pintora na importante revista inglesa, afirmando que essa “artista brasileira trabalhando em Paris, tem talento maior do qeu muitos dos incluídos na recente exposição brasileira no Royal College of Art. Suas abstrações em azuis, vermelhos e verdes, aplicados como numa plumagem de pássaro, sugerem a pura atmosfera do espaço em associações subjetivas de cores que estão emocionalmente em movimento, refletindo-se a si mesmas” (p. 227 de Studio International de maio último).

A bela reprodução do catálogo confirmava o progresso da conhecida pintora, no ajustamento dos tons dentro de vibrante e exuberante cromatismo que lhe é tão pessoal. Aguardemos, agora mostra de Noêmia em galeria ou museu do Rio.

No The ARTS REVIEW (nº de 29 de maio a 12 de junho/65), na mesma página em que Guy Burn comentava exposição conjunta de obras de Du-buffet, Matta, Michaux e Roquichot, saiu apreciação de Cottie Burland sobre a arte de Noêmia, bastante expressiva. Entre outras coisas diz que “não só a cor, mas um movimento informal determina-lhe o estilo. Esta brilhante pintora é melhor em suas maiores obras verticais, mas em todos os trabalhos ela obtém forte sentido de movimento recíproco”... “e tem a habilidade de sugerir um movimento que vai da tela ao espectador”. Parece-nos que para C.B. foi sobretudo a possibilidade de captar e exprimir o movimento que a surpreendeu em Noêmia Guerra, paralelamente ao variado e luminoso uso das cores”.

 

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