A Suprema vocação de Noêmia
Celina Luz
 - Jornal do Brasil - 1966
 

Paris – Via VARIG – Noêmia Guerra é uma pintora brasileira que está há 7 anos trabalhando em Paris, onde expõe seus quadros, atualmente, pela primeira vez. Tendo desistido de toda uma vida construída diferentemente, para se dedicar exclusivamente à pintura, a artista trabalhou quase anônimamente durante todo este tempo. Sua primeira exposição foi ianugurada na semana passada, na Galeria Jacques Massol.

A pintora não fez nenhum tipo de concessão para chegar onde chegou. Pintou até o dia em que, por força das circunstâncias, sua arte chamou a atenção dos entendidos. Foram eles que foram buscá-la em seu atelier de Montparnasse. Os vinte e dois quadros – representando paisagens brasileiras ou esboçando figuras típicas do nosso regionalismo nacional – que integram a exposição, estão pendurados nas paredes da galeria. A satisfação da artista é enorme e confessada.

 

O CRÍTICO

A exposição de Noêmia Guerra é apresentada no catálogo por G.S. Whittet, crítico inglês que durante vinte anos se dedicou à pintura para uma publicação de arte que dirigia. É ele quem escreve: “Se seu nome significa guerra, sua pintura significa paz. A paz conseguida quando se atinge o conflito entre as idéias, os pigmentos e sua aplicação é resolvida. Quando vi pela primeira vez os quadros de Noêmia Guerra num apartamento perto do céu  na vizinhança de Montparnasse, eles brilhavam com uma beleza sombria em púrpura profunda nas quais estandartes em verde primaveril e vermelhos florais representavam seus emblemas de batalhas. Revi-os, mais tarde, numa galeria instalada num subsolo em Londres, onde seu sabor exótico e ardente parecia mais rico ainda. Conhecendo os quadros pude conhecer a pintora. Esta mulher que vem do Rio de Janeiro possui uma seriedade que provém de uma profunda experiência da vida, com seus sofrimentos e alegrias, suas simplicidades e decepções”.

Mais adiante, Whittet afirma: “Para Noêmia Guerra a pintura faz de cada quadro um pavilhão, um estandarte de fé à devoção do domínio onde Piero della Francesca trabalhou, ao qual Rembrandt misturou seu suor, e no qual Cezanne experimentou suas sensações. Sal pintura tem uma força que é a maior de uma mulher que, em toda lucidez seguiu sua vocação. A arte é o autógrafo da personalidade. A medida que a ciência progride a arte recua. Mas, felizmente, existem ainda alguns pintores que fazem confiança à bússola de seu próprio magnetismo. Noêmia Guerra é um deles: ela não pede aos expectadores, nada mais que seu olhos. Estes conquistados, conduzem ao país da luz, onde não se procura nada e não há caminho. Olhamos e recebemos. Superfícies coloridas, ricas e sonoras irradiam uma luminosidade que é Pintura”.

“Como poeta – finaliza – acho que nas suas paisagens de luz, tão generosamente doadas, Noêmia Guerra abraça a vida com uma felicidade corajosa que poucos de nós possuímos. Como crítico, estou certo de que sua mensagem é lisível sem código, que se trata de uma pintura que é pintura no estado puro de significação universal”.

 

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